A JE Mora ao Lado: mulher trans, mesária voluntária defende a diversidade na sociedade e nas eleições

Mirhani de Freitas, de Santo André (SP), conta que alterou os dados no cadastro eleitoral para incluir seu nome social

25/09/2023 21:10

Quando foi mudar dados de endereço no título eleitoral, Mirhani de Freitas, mulher trans, foi convidada pela diretora do cartório a ser mesária nas eleições. E aceitou, começando uma história de colaboração com a Justiça Eleitoral também marcada pela defesa da representatividade e da diversidade, questões consideradas por ela como fundamentais para a democracia brasileira.

Veja a entrevista no canal do TSE no YouTube.

“Dentro da sigla LGBTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais), eu sou uma pessoa trans, sou uma travesti. Chama atenção, as pessoas comentam entre si: ‘Olha, fui votar e tinha uma trans mesária, foi muito educada, deu atenção’. Isso é a sociedade. Democracia é isso. Deveria ter uma quantidade maior de pessoas [atuando nas eleições] com deficiência, negras, japoneses, de diversas etnias, para o pessoal perceber que isso é a sociedade, isso é a democracia”, afirma Mirhani.

Natural de Mauá e moradora de Santo André, ambas cidades de São Paulo, Mirhani, hoje com 46 anos, concluiu a graduação como técnica de enfermagem, é promotora de eventos e diz que sua experiência profissional de comunicação com o público facilita a interlocução com o eleitorado na seção de votação. Acostumada com o atendimento de clientes por ter atuado numa empresa de transporte, ela afirma que leu com agilidade documentos até “de cabeça para baixo” na seção de votação.

“Eu tive a oportunidade de me voluntariar. Eu gosto de lidar com as pessoas e, em todas as vezes que fui votar, fiquei me imaginando ali como mesária, participando, auxiliando as pessoas, respondendo questões. Eu gosto disso, achei excelente e me candidatei. Me chamaram para a primeira eleição e eu fui. Eu me identifiquei e me senti maravilhada com a situação. Vieram pessoas de etnias e classes diferentes, todas ali por uma causa só: exercerem o direito e a obrigação de cidadãos de votarem. Foi fantástico”, recorda.

A JE Mora ao Lado - 21.09.2023

Mirhani conta que essa participação política tem sido uma conquista gradativa para grupos minorizados da sociedade brasileira: “Muitas trans antigamente não iam votar por se sentirem excluídas por causa do nome, de serem chamadas, de gente olhar no documento e falar ‘mas é você mesmo?’. Era um constrangimento. Hoje, está aumentando gradativamente [o comparecimento de pessoas trans às urnas]”.

Com uma sobrinha também mesária, ela garante que, embora já esteja familiarizada com o processo eleitoral, faz questão de redobrar a atenção no dia de trabalho no pleito: confere a documentação para não haver erros na seção e toma os cuidados necessários para tudo sair da melhor forma possível. “É excelente. É um trabalho fácil. Na segunda eleição para presidente [em que atuou], eu cheguei muito bem maquiada, com cílios, com roupa colorida, aí muitas mulheres elogiaram”, lembra.

Representatividade

Mirhani frisa que a vontade de ser mesária e ajudar a democracia acontecer não tem relação com direito a dia de folga no trabalho, e sim com o poder de exercer seu direito de cidadã. Assim, ela prega maior participação das pessoas na vida política do país.

“Eu me senti ali representando o pessoal LGBTQI. Ninguém me desrespeitou. Pela minha turma, eu me senti muito bem acolhida. A gente sempre fica aguardando a próxima eleição para a gente se reencontrar, conversar. É muito importante. As pessoas deveriam se conscientizar mais e se voluntariar”, opina.

Um detalhe: o primeiro documento pessoal próprio que a mesária retificou foi o título eleitoral: “O título foi o primeiro documento que mudei, porque o Tribunal [Superior Eleitoral] já deu essa oportunidade para as pessoas trans”. Em 2018, o TSE publicou a Portaria Conjunta TSE nº 1, de 17 de abril, que regulamentou a inclusão do nome social no cadastro eleitoral.

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